sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Lucidez e senilidade.

Lucidez e senilidade.

        Na nossa vida cada etapa tem seu valor e seu propósito de acordo com o que a natureza acha melhor para a continuidade da espécie. Quando somos crianças, temos que aprender com os adultos o que será importante na nossa vida. Quando somos adultos, temos que lutar para defender nosso território, buscar caça e procriar, usando justamente o que aprendemos com os outros. Não podemos nos esquecer que tudo que sabemos hoje, é fruto de descobertas anteriores, que nos foram passadas pela escola ou pela convivência com os mais velhos. É através destes conhecimentos que conseguimos cumprir nossa função na vida. Por isso, devemos dar valor a cada etapa da vida, cada uma tem sua importância num todo.
        Quando somos crianças, queremos envelhecer para sermos adultos logo. Queremos que o tempo passe logo. Temos a impaciência como característica principal. Tudo é muito urgente! Quando nos tornamos adultos, não queremos nos tornar idosos, como se possível fosse ficarmos no nosso auge físico por toda a eternidade. As pessoas começam a se modificar artificialmente, como se envelhecer fosse um castigo. Deveríamos considerar uma dádiva, afinal, nem todos envelhecem. Só os mais aptos, sadios e fortes passam vivos pelas outras fases da vida.
       Quando somos adultos jovens, somos fortes e atraentes, porque precisamos disso para poder procriar e cuidar da nossa cria. Mas, quando passamos para a velhice, não temos mais que procriar, tampouco temos que lutar para defender nossa cria. Por isso temos que achar outros prazeres na vida. Nunca uma mulher de setenta e cinco anos, por mais produzida que seja vai ser mais atraente que uma jovem, nunca. Essa mulher não reproduz mais e temos que saber que nossa libido existe em função da reprodução. Também um homem idoso, por mais que as mulheres o rodeiem, não tem como competir com um jovem. Mesmo que queira, seu pênis não fica ereto mais. Somos assim para que após nossa idade fértil, nos preocupemos com a pessoa ao nosso lado. A natureza sabia como é nos fez de forma que nossa vida tenha a cada etapa um sentido. Teremos uma vida em que nos proporcionaremos prazer, claro, mas nem eu nem ela somos mais reprodutores no mercado.
Não podemos achar que isso é ruim, isso é só conseqüência do tempo que vivemos, nessa época, já teremos vivido muito e certamente procriado, passado nossos genes pra frente. Não adianta a mulher se encher de plásticas, ou o homem passar a tomar cartelas inteiras de Viagra.  Não será mais do mesmo jeito!
          Então, nossa função na sociedade será de ensinar aos mais novos tudo que aprendemos. Tentar facilitar a vida deles, pois, como carregam nossos genes, eles são a nossa eternidade! Quanto mais ensinamos a eles, mais teremos a certeza de que sobreviverão, passando nossos genes à frente.
Somos a única espécie que sabe que um dia vai morrer. Por isso temos religiões e muita gente crê nelas. É muito difícil aceitar que depois da vida não haja nada. É aterrador! Mas a natureza sabia nos dá uma mão nessa hora, ela nos tira a lucidez, nos torna senis.
        Vejo pessoas lutando contra a senilidade, que antigamente chamávamos de caduquice, quando na verdade devíamos agradecer o fato de perder a lucidez. Imagine um senhor ou uma senhora de noventa e cinco anos, certamente essa pessoa sabe que não tem mais que cinco anos de vida, sabe que a cada dia que acorda pode ser o ultimo. Dá pra enlouquecer de angustia. Bem melhor é não saber de nada, não temer a morte, nem ter consciência de que ela virá cedo ou tarde. Melhor viver num mundo que só existe na nossa cabeça. Um mundo sem principio ou fim. Sem nada do que aprendemos ou valorizamos.
        Pessoalmente acho que o esquecimento na velhice, tão combatido pela ciência, deveria ser comemorado, ele não é um mal, ele é o reconhecimento pela natureza que a nossa parte foi feita e que não sofreremos na morte. É a forma que a natureza encontrou para que a gente não encare o próprio fim.
É evidente que uma pessoa senil dá muito mais trabalha para quem cuida dela. Mais gastos também, mas, se tivermos feito nossa parte bem feita, teremos recursos para essa etapa da vida. Teremos alguém para nos cuidar. Ou melhor, deveríamos ter tais recursos, mais aí já é outra historia. Definitivamente não quero ser lúcido aos noventa anos!
       Enfim, ao invés de lutar contar a velhice, acho que devemos aproveitar os prazeres de cada etapa da vida e buscar naturalmente a felicidade em cada possibilidade. Se minha parceira de longa data não é mais atraente, certamente ela tem outras qualidades que me prendem. Se não puder mais fazer sexo, vamos juntos caminhar na praia, ver o por do sol, abraçar os netos, vê-los crescer.


Um abraço, Paulo 28-03-2008.




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