sábado, 19 de novembro de 2011

Cristo Histórico!

                                               Jesus Cristo!


               Embora hoje eu não seja cristão, nem adepto de qualquer outra religião, a figura de Jesus Cristo histórico sempre me encantou. Disse acima que não sou cristão, mas já fui um atuante, inclusive, fui cursilhista e participei de outros movimentos da Igreja Católica. O fato de ter deixado a Igreja, foi simplesmente por ter chegado uma época na minha vida onde passei a crer em tudo com lógica. Igrejas, quaisquer que sejam, têm uma visão muito peculiar de lógica. E, como acho que não se relativiza lógica e segundo me disseram a fé não exige lógica, tive que deixar de crer nelas. Não creio em nada mágico, irreal, sem confirmação. Creio que Cristo tenha existido e tenha sido um grande líder, ainda que não eu não ache que ele tenha feito mágicas. Penso que como tinha uma inteligência realmente excepcional, aglutinava e convencia as pessoas com sua oratória.
             Mas, como o assunto religião sempre foi um dos meus preferidos, nunca deixei de ler sobre elas. Ler e pensar, criar minhas conclusões sobre sua influencia na sociedade atual e antiga. O Cristo histórico me fascina porque passados mais de dois mil anos de sua existência, ele é sem duvidas uma das pessoas mais influentes no mundo. Fiquei pensando um jeito de encaixar a figura histórica dele na sociedade em que viveu. Sua grande contribuição para a humanidade e o que poderia ter causado sua morte. Ele foi tão importante que embora não se tenha comprovadamente, uma pagina sequer escrita por ele, como outros mestres, suas lições permanecem. Se bem que no meu modo de ver, completamente deturpadas, conforme espero mostrar ao final desse texto.
             Para se ter uma idéia da sua influência, precisamos comparar a seita dos judeus com as seitas cristãs de hoje, principalmente a católica. Os hebreus tinham um jeito de professar a fé em grandes templos, com rabinos paramentados finamente, sendo consideradas pessoas especiais na sociedade deles. Eram pessoas que se diziam com um “canal de comunicação” especial com Deus e que, se atendidos os sacrifícios que eles impunham à população, Ele, por meio de seus pedidos, poderia atender as necessidades do povo. Mas, ressalte-se que só eles tinham esse canal privilegiado, como acontece hoje em qualquer religião. Isso tudo num país dominado militarmente por uma potencia estrangeira.
            Penso que Cristo teria simplesmente encerrado esse monopólio, teria dito ao povo que o tal canal com Deus era aberto a qualquer pessoa e que para isso, bastava que as pessoas se amassem se respeitassem e realmente partilhassem seus bens. Que, se isso acontecesse, o mundo veria o grande milagre que é a vida em paz. Que para orar, bastava conversar com o Pai sem nada pré-estabelecido. Disse-nos que com humildade de pensamento e atos, com reverencia ao Pai e com a partilha dos bens, teríamos o contato com Ele estabelecido. Não eram mais necessários, templos enormes, enfeitados de ouro, nem mestres com vestes especiais, nem ao menos sacrifícios. Ora, se alguém tivesse um boi para sacrificar, devia dá-lo a quem tem fome.
             Eu disse que desvirtuaram seus ensinamentos porque hoje, as igrejas agem exatamente como os judeus antigos, com seus imensos templos, seus pastores que cobram seus serviços, seus papas vestidos de ouro e morando em castelos. E, mais importante, se dizendo também com o tal “canal especial” de comunicação com Ele.
              Se, não temos nada escrito por Jesus Cristo, nem por contemporâneos dele, que possam ser datados e autenticados é porque, penso eu, sua influencia foi tão grande, e seus textos tão bons que foram destruídos ou, a mensagem tão simples, que dispensava registro.
Cristo pregava o total desprendimento de bens materiais, a busca absoluta pela paz e um Deus extremamente fácil de ser alcançado. Completamente o contrário de tudo que se pregava na época, um Deus que exigia sacrifícios e regras complicadas. Então, o que Cristo pregava não interessava definitivamente a eles, pois, com um Deus assim, deixa de ser necessário ter alguém para interpretar as mensagens divinas, torna-se desnecessário o intermediário. Se o povo acreditasse que nada além desta mensagem simples era necessário, os mestres perderiam influência e poder.
             Ele pregava um mundo onde não existia um povo escolhido, pois se tem um escolhido, tem vários rejeitados. Pregava a igualdade entre todos os povos, o que também certamente não agradaria politicamente aos mestres religiosos e aos reis da época. Imagino que ele pregava que o grande milagre seria que a vida é para ser vivida livre, que ninguém tem direito de ter servos, que as guerras eram erradas. Que o Deus que criou o mundo não dava vantagem a nenhum povo na Terra.
             O povo que seguia a Cristo, após sua morte, continuou se encontrando em catacumbas, justamente porque eram perseguidos, creio que principalmente pelos radicais religiosos, que não queriam perder o poder que o novo jeito de ver Deus lhes tirava. Mais tarde, quando os romanos se converteram à nova religião, os seguidores de Cristo viram que conseguiram certo destaque, passaram de perseguidos a influentes, no maior poder da época. Seus líderes então passaram a usufruir dessa influencia e deixaram o modo simples de vida pregado tão insistentemente pelo seu mestre. Seus líderes passaram a ser tratados como representantes do novo Deus. Certamente passaram a usar paramentos especiais, a se enfeitar, a exigir tratamento especial. Por isso, criaram a estrutura da Igreja Romana que temos hoje.
            Na idade média, com a Inquisição, a igreja atrasou o desenvolvimento da humanidade em alguns séculos justamente pelo mesmo motivo que fez os líderes judeus perseguirem Jesus Cristo, o medo de perder poder à medida que a população criasse condições de contestar suas leis. Na historia tem papas que cometeram atrocidades em nome de um Deus que pregava, sobretudo, a paz.  Martinho Lutero, quando quis mudar esses aspectos na igreja foi expulso e quase queimado. Saindo então para fundar sua igreja protestante, que hoje também se encheu dos mesmos vícios.
             Não creio que Cristo tenha sido um mágico, que fizesse coisas sobrenaturais. Acho que simplesmente foi um cara extremamente inteligente, com um poder de persuasão sensacional, que aglutinava as pessoas à sua volta, como já disse acima. Convencia-os a viver em paz, a ver o mundo não como algo a ser conquistado, mas, algo a ser partilhado. Por isso, foi preso e morto num mundo onde se matava para conquistar coisas em nome de Deus. Era inadmissível seu jeito de ver Deus e de ensinar isso. Pena que de jeito nenhum ele conseguiria convencer a todos no mundo, ele não considerava o fato de o ser humano não abrir mão do poder. Cada um de nós acha que, se for possível conseguir mais bens, conseguirá mais tranqüilidade na vida. É muito difícil a um homem rejeitar poder que lhe é oferecido. Por isso as igrejas nunca rejeitaram, pelo contrário, elas o acumularam o quanto puderam.
            As igrejas, todas elas, só conseguiram a influencia que têm na sociedade porque vendem um produto impossível de verificar se foi realmente entregue, a vida eterna. No caso dos milagres, o que acontece de sucesso é milagre, o que acontece de errado, é o fiel que não conseguiu a graça e Deus tem lá seus motivos para não conceder. Pode ter sido, como no caso das igrejas evangélicas, que o fiel não pagou o dízimo direito ou não teve a devida fé na prece. Ou como no caso das católicas, que o fiel não fez a promessa direito, não doou o que realmente devia para a igreja ou não pediu para o santo certo.
           Como nós, humanos, achamos que o correto é ter alguém que nos trate de forma diferenciada dos outros, buscamos aceitar tudo que o pastor diz ou ser fieis de um determinado santo. A idéia é que, sendo representado por alguém influente, Deus nos atenderá de forma diferenciada. Por isso, reverenciamos seres humanos comuns, como padres, bispos, papas, pastores e mesmo quem já morreu. Simplesmente porque achamos que essa pessoa nos garantirá um tratamento diferenciado por parte de Deus.
           Penso que o adorno que um Papa, um Bispo, um Rabino Judeu ou um mestre de qualquer religião use na cabeça, não é em nada diferente de um cocar que um pajé use numa tribo remota do Amazonas, ou no interior da África, ou na Oceania. A função é exatamente a mesma, mostrar para a comunidade toda que aquela pessoa tem o tal canal especial com Deus e que se alguém quiser ou precisar de algo, tem que se submeter às regras impostas por ele ou pelo sistema que ele representa.
           Disse que não creio num Cristo mágico, não creio mesmo. Tudo no mundo tem lógica e não vejo a menor lógica em um pai deixar o filho inocente morrer sofrendo para dar exemplo de justiça. Ora, justiça seria o pai não deixar o filho sofrer. Não consigo entender um Deus tão cruel como as igrejas pregam. Se, elas não pregassem um Deus assim, o povo não teria porque temer e não teria que pagar para ter o que precisa. Como entender que um Deus seja generoso e amoroso e exija um sacrifício tal qual Cristo passou para estar de bem com seu povo? Como imaginar que um Deus assim condene uma criança que morreu sem um determinado batismo a viver a eternidade nas trevas? Penso que é justamente esse tipo de relação com as religiões que faz com que as pessoas valorizem tanto os intermediários que existem nelas. É o medo de Deus. Como querer que alguém questione um Deus que é mostrado assim, cruel e inacessível?
           Aliás, acho que nas igrejas a ultima coisa que se vai encontrar é democracia, Deus é mostrado como um ditador que não aceita sequer que seus livros sejam interpretados fora da igreja. E cada igreja é mais arrogante, propagandeando-se como a única certa. Quem quiser o paraíso tem que ser através dela. Mas, se Deus não aceita questionamento, como saber qual realmente é certa? E, quem estiver na errada, vai pro inferno? O discurso de Cristo ia de encontro a tudo isso, explicava tudo que precisávamos para viver em paz entre nós e com o criador. Penso que ele falava de um socialismo real, onde cada um precisaria apenas do necessário para a vida. Onde se alguém tivesse mais recursos do que necessitava, dividiria espontaneamente.
          Pena que tal socialismo não funciona, nem com mágica. As pessoas não deixam de acumular, ainda que não precisem. Infelizmente, é da natureza humana, não desperdiçar oportunidades. Por isso, não deixamos nunca de usufruir vantagens que nosso cargo nos confere, qualquer que seja esse cargo. Cristo pregava Deus acessível a todos, porque então, suas igrejas separam os fieis de acordo com as classes sociais. Se um pobre morre, nem sempre consegue um padre para lhe encomendar a alma. Mas, se morre alguém influente na sociedade, logo surgem bispos e até mesmo cardeais para lhe fazer uma prece mais poderosa. O mesmo acontece nos casamentos. Creio que os fieis pensam assim, pois que diferença faria uma prece feita por um pastor, um ministro, um padre ou um bispo? Sendo uma igreja justa, que prega um Deus justo, nenhuma! Pois penso que esses privilégios de classe foram combatidos por Cristo.
           Muita gente, inclusive integrantes das igrejas, todas elas, se tiverem condição de acumular recursos, acumulam. Muitas vezes até mesmo sem o devido respeito ao alheio. Vejo padres, (cantores, por exemplo) que, ao fazer sucesso e ganhar dinheiro, deixam de lado a vida de sacrifício e de pobreza. São donos de um dom natural e por isso, com direito a possuir bens, isso é certo. Não questiono o direito de ninguém ganhar dinheiro com um talento próprio, se honestamente. Questiono alguém que fale de um Deus que prega o desprendimento, e use o dom que tem de forma comercial. Ele pratica uma concorrência desleal com outros que têm o mesmo dom, pois, esse padre ou pastor, além desse seu dom, tem também o público já cativo da religião.
           Imagino Cristo pregando no alto de uma colina ou no centro de uma praça. Não o vejo dentro de um templo imenso, todo adornado de ouro e pinturas. Vejo-o dizendo da simplicidade de encontrar Deus em toda a natureza. Vejo-o enaltecendo o valor da vida com o sendo o grande milagre do Criador. Dizendo que a partir daquele momento, não teríamos mais que acumular riquezas, nem teríamos mais tradições complicadas. Que de nada adianta pagar dízimos, fazer jejuns, implorar misericórdia, enfeitar templos, matar bois e carneiros. O que realmente importa é o quanto respeitamos o Criador e sua criação.
          Cristo foi um pregador político, questionava o excesso de poderes dos mestres judeus, poderes esses, que eles mesmos se davam aterrorizando a população com o Deus que pregavam. Ainda hoje, essa mensagem é extremamente atual. As igrejas conseguem fieis por duas maneiras, primeiro, claro, com promessas de resolver os problemas terrenos de todos, magicamente, como as evangélicas. A segunda, fazendo crescer um medo de um Deus extremamente punitivo e uma vida eterna extremamente difícil de ser alcançada. Muitas pessoas não questionam nada nas igrejas, não por convicção, mas por medo de realmente ao morrerem serem encaminhadas para o inferno, num julgamento sumário, sem nem ao menos direito de defesa. Vejo hoje num programa de televisão de uma emissora católica, um professor dizer textualmente que a igreja não é uma democracia. E que é assim por ter sido criada por Deus em pessoa e seus dirigentes também serem diretamente escolhidos por ele. Disse ele que nem sempre a vontade da maioria é o certo e, se fosse uma democracia, a igreja católica já teria se extinguido.
          Penso que fica bem claro meu pensamento do inicio deste texto. Definitivamente não é interessante para uma elite religiosa dominante que o povo saiba que têm acesso direto a Deus, que não precisa pagar pelos préstimos de intermediários.  Penso que tudo que não é democracia, é ditadura, e não existe justiça em nenhuma forma ditadura.
         Citei mais aqui as igrejas cristãs, mas, esse é o meio de trabalhar de todas as crenças. Ou alguém imagina outro motivo para um muçulmano se encher de bombas e se explodir matando outras pessoas só por que têm religiões diferentes? Aliás, um dos grandes motivos de guerras em todos os tempos é o religioso. Cristo disse que ninguém deveria matar por nada, muito menos pelo Deus que criara a vida. As pessoas sempre se acham no direito de até mesmo matar se necessário, para salvar as almas de quem não pense igual eles.
          Com o crescimento da influência da igreja no Império Romano, seu poder político cresceu e ela se viu no direito de ter patrimônio e esse fez com que sua influência crescesse. Criar patrimônio é completamente o contrário do que o Cristo histórico pregava. Isso, aliado ao fato do povo precisar sempre de milagres momentâneos, criou as igrejas que temos hoje.
Um imenso abraço, Paulo César Pacheco, 13/01/2010!
Obs – Texto começado anteriormente, data não incluída. Essa data acima é a da última atualização.



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