domingo, 29 de julho de 2012

A inveja!


A Inveja!
           Os pecados capitais  o jeito de a igreja católica trazer para a vida real seus ensinamentos. Tentar ela, através de seus conceitos, criar regras para uma vida medieval, até então, sem muitas regras, o que era extremamente prejudicial à sobrevivência, tanto de aldeias quanto de reinos. Senão, vejamos: a gula pode ser entendida como o desperdício de comida; a avareza é o não compartilhamento daquilo que lhe sobra; a luxúria é a busca do prazer desmedido; a ira é a briga por causas desnecessárias; a inveja é o interesse pelo que é do outro; a preguiça é a não participação no esforço da comunidade; a vaidade é a valorização de seus próprios dons além do certo. Isso dito, claro, de bem grosso modo. Dentre esses, acho que tenho dívidas impagáveis em relação a alguns. Da gula, da preguiça e da luxúria, por exemplo, como brasileiro que sou, tenho várias contas acertar. Da vaidade, da ira e da avareza, acho que nada carrego comigo. Penso que nesses, passo de liso no acerto. A inveja merece um estudo separado.  Penso que existem dois jeitos de se defini-la, mesmo nunca tendo lido sobre essa divisão e sabendo que na definição real ela não exista, acho que ela pode ser construtiva ou destrutiva.
         Para começar, vamos partir de um princípio que tenho como mote: qualquer um pode e deve querer melhorar, aprimorar, ter mais posses e uma vida mais confortável e segura. Fazer isso, mesmo que mirando nos exemplos de outros é completamente saudável e natural. Entretanto, a felicidade não pode nunca estar no futuro, dependendo de algo mais a ser conquistado. É preciso que cada um seja, a princípio, feliz com o que tem. Conquistar algo é bom, de fato, mas não pode ser essencial para que alguém se sinta feliz. A felicidade, quando dependente de conquistas futuras, nunca chegará, sempre faltará algo.
         A igreja define a inveja só pelo jeito destrutivo de ver. É o querer desmedido pelo que é do outro, pelas suas conquistas, pelo seu status, o invejoso é um idiota que se preocupa mais em derrubar o outro que em crescer. Se, na idade média, era essencial que fosse considerado um pecado e tanto, porque destruiria muito do que as comunidades construíam, hoje é algo quase que propagandeado nos meios de comunicação, embora seja tão pernicioso ou mais que antanho. Você só será feliz se tiver algo que outro tem.  Isso faz com que os limites sejam, digamos, alargados. Quero tanto o que o outro tem que, para tê-lo, posso tranquilamente passar por cima dele. Não podendo, entretanto tê-lo, prefiro destruir tudo que ver outro com a posse. Normalmente as pessoas que invejam, destroem quem está perto delas. Na intenção de competir pela posse, são sempre sorrateiros, amigos (falsos é claro). Se meu irmão ou amigo tem empresa, carro do ano, relógio de marca e eu não consigo, prefiro vê-lo perder tudo, e farei o que for possível, para que ele perca. Se for feliz, se tiver família, paz, isso dói em quem nutre o sentimento de inveja. O simples fato de entrar numa disputa com tal sentimento faz com que já se entre perdendo.
          O outro modo que proponho, é o do exemplo: invejo tal amigo, gostaria muito de “também” conseguir o que ele conseguiu. O “também” está entre aspas porque faz total diferença. Tenho o outro como exemplo, como norte a ser buscado. É fácil imaginar que quem busca se comparar a alguém, não busca destruí-lo, pois o admira. É também fácil supor que a felicidade não está inclusa nessa conquista, ela já existe.
         Tudo isso posto, penso que não tenho acertos com relação à inveja para complicar minha prestação de contas no dia do juízo final. Não que eu não tenha invejado amigos, ou famosos ou outras pessoas anônimas. Tive e tenho inveja. Invejo quem é fluente em vários idiomas, invejo quem é versado em muitas culturas. Invejo que já viu o por do sol ao lado da Esfinge no Cairo. Invejo que já passeou pelo museu do Louvre em Paris, quem esteve na Biblioteca do Congresso Americano, quem já passou pelo encontro das águas em Manaus, quem conhece as muralhas da China, quem já passou pelo Big Ben em Londres ou pelo Museu Hermitage, em São Petersburgo. Invejo que já fez uma viagem pelo Saara, quem entendeu seus mistérios, a cultura de seu povo. Invejo quem já viu a Terra do espaço, que já foi à Lua, mesmo sabendo que para esses dois, por faltar-me coragem, para tentar que seja, invejo-os mais ainda. Invejo quem tem um currículo, tipo, doutor nisso, doutor naquilo, professor da universidade tal, pesquisador de tal coisa. Invejo quem escreveu os melhores livros, os melhores artigos, quem pintou os grandes quadros, compôs as grandes músicas que eu gosto. Invejo quem conseguiu na vida ser respeitado e eternizado pela sua obra, quem passou incólume pelo sistema corrupto que temos. Invejo quem consegue salvar vidas, construir coisas. Invejo quem foi ou é importante para a humanidade, por seus estudos, suas idéias. Invejo os bombeiros, que salvam vidas e, por isso, são ovacionados após cada conquista.
        Não invejo definitivamente, quem tem uma Ferrari, não que eu não gostasse de ter uma, claro que gostaria. Apenas, o fato de não ter uma Ferrari, não me faz a menor falta. Não invejo quem viaja à Paris ou Miami ou Nova Iorque apenas para fazer compras nos shoppings e nas lojas de grife. Acho uma futilidade absurda, nada há que se compre em Nova Iorque ou Miame, que não se encontre no Rio ou em BH ou São Paulo. Minha felicidade não depende disso.
       Quis mostrar com esse texto, que a inveja pode estar entre os sete pecados capitais como também ser vista fora deles, como algo que fez, e faz muita gente lutar e conseguir melhorias, sem prejudicar outras pessoas. Alguns podem dizer que essa inveja construtiva é simples admiração. Não é. Ou pode ser. Quem sabe ao certo? Cada um pode e deve pensar a respeito. Para despertar esse pensamento é que escrevo.

Um abraço, Paulo César Pacheco!