Influência!
Dois fatos divulgados em Formiga essa semana são dignos de análise. O primeiro é o imbróglio entre o vereador Moacir Ribeiro, que teve o mandato extinto depois foi reempossado e depois novamente perdeu o mandato. Não li o processo, não estou, portanto, apto a dizer se está certo ou errado ele continuar como vereador. Nem mesmo a leitura da justiça é contundente visto que as decisões são antagônicas. Não vou opinar então! No entanto, é fato conhecido na cidade que ele fez sua longa carreira política ajudando as pessoas do seu bairro. Não me cabe dizer também se, de má fé ou não, visto que o próprio povo acha que a função de um vereador é mesmo ajudar as pessoas nas suas necessidades imediatas, como agendar consultas, remédios, cestas básicas, contas de água e luz e afins. O próprio fato de ele morar num dos bairros mais carentes da cidade, faz com que essa tarefa seja mais fácil e tenha até certo cunho social. O povo pensa: “elegemos ele, então temos que cobrar que ele nos ajude”.
Posso falar o que quiser que eu não ou conseguir convencer ninguém que isso não é função de vereador. Ninguém entende que a função deles é conseguir que o poder público propicie a todos os cidadãos, indiferente do bairro onde moram ou de sua classe social, serviços públicos de qualidade. A prefeitura deve, por exemplo, ter um serviço social que atenda a população em emergências sociais, distribuindo cestas básicas, assim como deve ter um pronto socorro decente, um sistema de consultas, exames e internações de acordo com as necessidades da população indiferente de quem precisa ter ou não o apoio de um vereador. Assim como escolas, calçamentos de ruas, redes de água, esgotos. Tudo deve ser prestado de forma eficiente e igualitária a todos os cidadãos. Votamos neles para que promovam e fiscalizem essa igualdade de condições.
No segundo, a ida do prefeito a Brasília, ao gabinete do deputado Odair Cunha, buscar recursos para Formiga. Foi buscar recursos para a reconstrução de uma ponte e as passarelas, destruídas na enchente de 2008. Penso que se o prefeito precisa de determinada verba que é pública – pois juntada dos impostos que todos nós pagamos – e lícita, essa necessidade é legal, portanto, ele não precisaria de intermediação de um deputado para conseguir, bastaria ir direto à secretaria ou ao ministério em questão, apresentando toda a documentação necessária. Se não precisa ou não é legal, ele não deveria conseguir, nem mesmo tendo o deputado mais influente do país ao seu lado.
Essa forma de liberar verbas que é usada no Brasil, cria o que vemos diuturnamente nos jornais. Além de desvios, falcatruas, o dinheiro nem sempre vai para onde o contribuinte mais precisa dele, pois tem que atender o interesse do deputado influente antes do interesse da população. Por isso, surgem hospitais inacabados, estádios para dezenas de milhares de pessoas em cidades com três ou quatro mil habitantes, viadutos e pontes que ligam nada a lugar nenhum e em contrapartida, hospitais de cidades do interior superlotados, pronto socorros absurdamente deprimentes com médicos sem os recursos mínimos e pacientes morrendo, casas populares que se desmancham, cidades sem esgoto ou água tratada, idosos que têm que ficar dias nas filas para conseguir uma consulta, falta de escolas, professores mal pagos e desinteressados frente à violência da qual são vítimas constantes, ruas sujas, favelas, poluição dos rios, zumbis viciados e maltrapilhos andando pelas cidades, a violência policial, a impunidade, a justiça que não atende os anseios da população, principalmente a mais pobre e todas as mazelas que se fosse relatar aqui, gastaria um monte de artigos.
Quando votamos em deputados pelas verbas e não pela sua atuação parlamentar, estamos perpetuando essa miríade de deformações. Estamos vendendo nosso voto em troca de serviços que são nossos direitos. Desconsideramos que o Estado Democrático de Direito prevê direitos e deveres para todos os cidadãos e que esses devem nortear nossa vida. Assim ninguém, mas ninguém mesmo deveria ficar devendo favores a ninguém por um serviço prestado de forma legal pelo Estado.
Pergunto então: qual a diferença entre o prefeito ir a Brasília pedir verba para o deputado Odair Cunha e uma senhora idosa da Vila Padre Remaclo ir à casa do vereador Moacir pedir uma ajuda para comprar um remédio para seu neto doente? Nenhuma! A não ser o fato de a senhora estar usando uma roupa velha e puída do dia e estar acompanhada de outro neto e o prefeito estar de terno e acompanhado de um assessor (outra imundice da política brasileira). Embora ambos estejam buscando algo que é seu direito, preferem fazê-lo através de intermediários. Acham que se tiverem alguém influente para ajudá-los conseguiram mais rápido o que buscam.
Paulo César Pacheco
paulomg43@hotmail.com
Excelente Paulo. Influência neste país é um problema crônico, que para muitos, principalmente na área política a utilizam por ser a maneira mais viável a seus interesses.
ResponderExcluir