Democracia!
Minha filha, de todos os ideais, o mais difícil de ser defendido é o democrático. Embora seja usado por todos, principalmente pelos políticos em busca de votos. É, por certo, muito bom para qualquer político se dizer “democrata”. Como a grande maioria da população não sabe o que é realmente é isso, vai ver naquele que lhe consegue mais “vantagens” um real democrata. Não é! Democracia significa “governo escolhido pelo povo” e em nome desse exercido. O ideal democrata tem como definição máxima, pelo menos para mim que sou leigo, uma frase de Voltaire, pseudônimo de François Marie Arouet, poeta, escritor, ensaísta e filósofo francês, do século 18 – “Não concordo com uma única das palavras que dizes, entretanto, daria minha vida pelo seu direito de dizê-las”.
Isso significa minha filha, que numa democracia, tudo, mas tudo mesmo que um cidadão tem ou deve ter do estado, é direito seu. Não fica ele devendo um nada por qualquer coisa que tenha conseguido, assim como não deve o cidadão, buscar dos recursos do estado, nada além daquilo que está explícito na lei como seu direito. As leis devem, muito claramente, demarcar os deveres e direitos dos cidadãos. Para que existam leis justas, que partilhem de forma equânime os recursos que os cidadãos pagam de impostos é que existe o Poder Legislativo.
No Brasil, vemos de forma equivocada a atuação do Legislativo, advindo daí a péssima reputação que esse importante poder tem na sociedade. Achamos que o bom deputado ou vereador é aquele que nos destina recursos, que se legais, já deveriam estar expressos na lei. Se não legais, não deveriam ser destinados. Não é correto, nem ético, que um candidato a qualquer cargo público, consiga votos através de verbas destinadas a quem quer que seja. Quando valorizamos isso num candidato, aceitamos que, para ter acesso a algo que é nosso direito, tenhamos que abrir mão da nossa ideologia. Temos que aceitar candidamente que, para ter algo que é meu direito, teria que agradecer com submissão a alguém que em tese, teria “trabalhado” para que essa minha necessidade fosse atendida. Isso é inadmissível!
Não deveríamos votar em quem nos oferece vantagens. Não deveríamos ter ou querer ter vantagens. O certo é termos representantes que olhem para o bem comum, que façam seu trabalho representar toda a sociedade, indiferente de qual seja a doutrina ou ideologia de cada cidadão. As leis feitas ou propostas por quem quer que esteja no cargo de legislador, devem servir de regras para a vida de todos os cidadãos, dando a todos os mesmos direitos e deveres. É preciso que tenhamos consciência de que, se conseguimos qualquer coisa de forma ética, idônea, honesta, disputada em igualdade de condições com outros concorrentes, não ficamos devendo favor nenhum a ninguém. Temos, pois, o direito de expressar a nossa opinião, que deve sempre ser respeitosa, em qualquer lugar. Quando, ao contrário, usamos de influência, e poder para conseguir o que queremos, vamos ver nossa opinião submetida aos interesses daqueles que nos propiciaram vantagens. O popular “rabo preso”.
É preciso lembrar que, embora tenhamos plena consciência de nossos direitos, o cumprimento de nossas obrigações é, e sempre será primordial para a busca deles. E que o respeito é fundamental. Por mais que estejamos certos, qualquer pendência deve ser resolvida com respeito. Ser forte, não quer dizer ser agressivo, isso por sinal é característica dos covardes, que, não tendo argumentos, dão ordens aos berros.
Filha, prá pensar: Para que alguém leve alguma vantagem, alguém certamente terá que perder.
Um beijo, Paulo César Pacheco (Papai)
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