Esse artigo foi escrito em 2008, no limiar da crise que abalou a economia mundial.
Dólares de vento.
Há muito tempo penso na condição dos americanos, como gestores de uma política econômica mundial, serem os donos da fabrica de dinheiro. Até 1971, com o dólar lastreado em ouro, o seu valor era sempre possível de ser apurado, era só pesar quanto de ouro havia em Fort Knox e comparar pela cotação mundial. O tratado de Bretton Woods, firmado em 1944 visava equiparar o saldo de moeda com os ativos existentes, para justamente evitar crises feito essa. Findo esse sistema, com o dito lastro na produção, os governos americanos simplesmente começaram a emitir dólares, de acordo com sua necessidade. Igualzinho a paises em desenvolvimento ou até mesmo estagnados por ditaduras, como foi o caso no nosso pobre Brasil. Eles, os americanos e europeus nos impuseram uma correção de rumos, nos obrigaram praticamente a parar de emitir moeda, o que foi certo. Só não levaram em consideração que o dólar também é uma mercadoria, tal qual as moedas dos outros paises e que por isso também é sujeita às leis do mercado. Como o mundo todo sempre quis dólares e os Estados Unidos os emitiam de acordo com as suas necessidades, todo mundo gostava. Eles fazem dinheiro, compram nossa produção e a gente fica com uma parte do lucro. Vale enquanto o dólar tem mercado. O que ocorre hoje, no meu modo de ver, é que o mundo está saturado de dólares, não tem o que comprar com eles, e ninguém quer começar a rasgar dólares lastreados em vento, pois se assim fizer, o prejuízo será muito maior. Eles foram irresponsáveis, sempre gastaram muito mesmo quando não tinham dinheiro, enquanto o mundo economizava. Os americanos nunca deixaram o “American Way Of Life” nunca se desfizeram dos seus carrões, das suas mansões, do seu pouco senso de economia. Nunca deixaram de produzir guerras caríssimas mundo afora. Patrocinadas por dólares lastreados em vento. Para a população, o crédito fácil e barato, para o governo a maquina de fazer o produto mais procurado no mundo, o dólar.
Li na coluna “Brasil S.A.” do jornal Estado de Minas, que o tamanho dos ativos financeiros ilíquidos, atinge a ordem de quatro a doze vezes o PIB americano, que é de quatorze trilhões de dólares. Ora, a expressão: “ativos financeiros ilíquidos”, nada mais é que dinheiro que não vale nada. Não tem nada que possa ser comprado com ele. Não tem valor real, palpável, que é o que importa na hora de comer, ou produzir. Lastreado em vento! Se o dólar é lastreado no PIB americano e a dívida do mesmo estado americano é muito maior que sua produção, isso representa falência. Ou melhor, seria em qualquer lugar do mundo.
Dinheiro, qualquer que seja ele é nada mais nada menos que um documento de um determinado governo formalizando que o portador tem direito a um determinado valor em produto ou serviço em seu país. Tanto faz se é impresso em notas, ou em papeis da divida de qualquer país. Pergunto-me, se todas as pessoas ou paises que têm dólares, resolverem trocá-los, o que aconteceria? E se todos resolvessem resgatar os títulos do Tesouro Americano? Não sei se alguém se lembra da historia infantil de Andersen, se não me engano, “O rei está nu”. Se todos quiserem se desfazer dos seus dólares, o rei verá que está nu a mito tempo. Estranho é que por causa dessa dependência do mundo por dólares, os Estados Unidos ainda tem graduação “triple A” para investimentos no mundo. Creio que isso é só porque o mundo depende do consumo dos americanos. Nós o resto do mundo, produzimos para vender para eles nossa produção por dólares que na realidade não valem nada, mas que ainda assim o resto do mundo ainda considera a melhor coisa do mundo. Todas as empresas querem exportar para lá.
Vejo que os investidores estão deixando de comprar papeis de empresas que produzem no mundo real ou vendendo suas cotas delas para comprar dólares. Não entendo como pode ser possível que ninguém veja isso. Que ninguém veja que o dólar na realidade só vale enquanto essa ciranda rolar. O que por sinal é o que o governo americano quer fazer. O pacote de socorro deles, não é nada demais alem de trocar o vento de Nova York pelo ar de Washington como lastro do dólar. É dar ao mundo uma falsa impressão de que ainda tem valor. E ainda assim, eles estão declinando da necessidade. Os americanos não vêem que o mundo está mudando e quando mudar verá que o rei está nu.
Não sou anti-americanista, tampouco sou esquerdista ferrenho, aliás, nem esquerdista sou. Acho que os americanos deram ao mundo grandes lições, grandes descobertas, grandes feitos. Mas acho que o mundo patrocinou de certa forma seu crescimento, sua pujança. Patrocinou justamente como disse acima, comprando dólares sem lastro. Na verdade, se o mundo quiser resgatar seus dólares, verá que doou muito de sua produção aos americanos, eles simplesmente não têm como pagar suas dividas. Seu dinheiro é desprovido de valor real. Papel, puro e simples. Papel bonito, mas apenas papel. Mesmo as empresas americanas, cujo patrimônio é imenso, (em dólares, claro, mas imensos), muitas delas têm suas bases de produção fora do país, ou seja, contribuem para o PNB de outros. Se resolverem ir embora, sua produção fica nos pais que estão. Ou alguém acha possível levar embora uma grande usina? Tenho lido em jornais e visto na Televisão que a riqueza americana se baseia no consumo. Ora, não se cria riqueza com consumo. Riqueza é o acúmulo de reservas. O que eles fazem, é exatamente o contrário, ao invés de acumular reservas, eles consomem muito mais do que produzem. Não geram sobras para as reservas. Muito pelo contrario, gastam hoje, o recurso que só terão amanhã. É a divida, ou seja, a anti-riqueza.
Não sou economista, nem político, portanto não sei nem dizer o que acho que seria uma saída menos dolorosa para essa imensa crise no mundo todo. Mas, na minha ignorância, acho que se eu tivesse bilhões de dólares, trocava-os por ações de empresas no mundo todo. Mas empresas que produzem bens palpáveis, comíveis, usáveis. Bens reais. O mundo passou a depender de vender para os americanos porque eles estavam sempre querendo comprar, e seus cheques (notas de dólar) eram aceitos pelo mundo todo. Temos que aceitar que nosso principal cliente está falido. Não tem como trocar seus dólares, senão por outros air dólares. Cedo ou tarde, alguém verá que o rei está nu, e aí, nossas propaladas reservas de mais de duzentos bilhões de dólares, não valerão nada, assim como as da China, ou da Rússia, ou de qualquer país ou pessoa que tenha os aerados. Também é certo que as dívidas também se evaporarão. Acho que o mundo sobreviverá. Será difícil certamente aprendermos a viver sem nossos consumidores contumazes para todo tipo de produtos, mas certamente sobreviveremos. Difícil é imaginar os americanos aprenderem que tudo que é produzido tem um custo. E que eles não são os donos de tudo no mundo. Eles são apenas os donos da máquina de fazer dólares! Estou, pra dizer a verdade, curioso para saber o que vem por aí. Talvez seja melhor para o mundo assumir o calote, talvez seja menos doloroso. Talvez até já esteja assumindo.
UM abraço Paulo César Pacheco, 03/10/2008.
paulomg43@hotmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário