domingo, 19 de junho de 2011

Assistencialismo!
               Semana passada o jornal “O Pergaminho” publicou ótima matéria e um editorial sobre a contratação de funcionários pela Câmara Municipal. Hoje, domingo, o jornal “Estado de Minas” também traz matéria contundente sobre esse assunto. Esse tipo de “serviço” prestado pelos vereadores é o mesmo prestado pelos deputados, quando conseguem verbas para os prefeitos. É um traço fundamental da nossa política, é um câncer que não se consegue extinguir exatamente porque é uma característica de nossa população, ser eternamente subserviente, dependente de favores. O povo, por ingenuidade, má fé ou por despreparo, não vota em políticos que não sejam assistencialistas. Preferimos ter um prefeito que nos atenda na casa dele, que nos dê o remédio, a autorização para um exame pessoalmente do que outro que nos dê um serviço de saúde eficiente. A empresa em que trabalho tinha seu escritório perto da casa de um ex-prefeito de Formiga, no centro da cidade. Lembro-me de chegar cedo para começar meu plantão e ver filas e mais filas na porta da casa dele, e as pessoas falavam que ele era muito bom, pois, recebia o povo, não se afastava. Por incrível que pareça ninguém reclamava do sistema de saúde não funcionar.
              Escrevi um dia, que a relação do brasileiro com a política é a mesma que ele tem com a religião. Não sigo religião nenhuma, mas respeito e leio muito sobre todas. O brasileiro, quando tem um problema e quer pedir a solução a Deus, não o faz diretamente, procura um santo, se católico, ou um pastor se evangélico (parêntese para ressaltar que as várias outras religiões que coexistem no Brasil têm cada uma seus preceitos). Assim como quando precisa de digamos, um exame médico, ele ao invés de procurar a secretaria de saúde, e, se não atendido, buscar as vias legais que lhe garantam atendimento, vai atrás de um vereador influente. Assim como nossos prefeitos, quando precisam de uma obra, ao invés de procurar a secretaria da área, procuram um deputado, pois como ele é mais influente, consegue o que eles precisam. Por isso temos tanto estádio de futebol inaugurado em cidades que não têm times. Por isso temos obras inúteis e inacabadas, espalhadas por esse Brasil a fora. Por isso, temos tantos funcionários de câmaras de vereadores transportando doentes, dando cursos, fazendo, do que deveria ser dever do Estado, um favor prestado pela “bondade” do vereador. Eles são pagos com o nosso dinheiro para nos fazer favor. Tem graça isso?
               Esse tipo de vinculação é tudo que nossos políticos querem. É assim que os Newtons Cardosos, os Barbalhos (não sei fazer o plural de Jáder, rsrs...), os Paulos Malufs, e outros 99,9 por cento de nossos políticos conseguem se eleger indefinidamente. Perpetuam-se no poder, porque têm consigo a condição de dar coisas para o povo. Eles compram o voto dando ao povo, aquilo que é seu direito por lei, ou seja: saúde, educação, justiça, infra-estrutura e segurança e o fazem de forma precária. Contam para isso com a ignorância do próprio povo, que não se importa de pedir, se humilhar, sem saber que de nada disso precisa e ninguém lhes conta isso! Muita gente de Formiga, por exemplo, não sabe ainda da polêmica que foi a contratação dos assessores dos vereadores. Assim como não vão ficar sabendo que vamos ter que pagar esse número extra de servidores, não importa que o jornal publique ou que eu escreva ou que a TV ou as rádios da cidade falem sobre isso. O povo simplesmente não se interessa.  
          Embora eu tenha vários questionamentos, tenho que reconhecer que o Lula foi certamente um grande presidente da república, assumiu responsabilidades, chamou para si o jogo, e com certeza, o Brasil saiu melhor do seu governo do que quando entrou. Isso é fato e a história há de mostrar. Entretanto, muitas das coisas que aconteceram foram sim, de cunho assistencialista, o Bolsa Família, por exemplo, por não cobrar de forma real nenhuma contrapartida dos atendidos, criou uma classe de dependentes dele. Tem pessoas que não querem trabalhar registradas, só para não perder o benefício. Para elas, o mensalão, por exemplo, não tem a menor importância. Assim como se alguém falar mal de um vereador ou deputado, vai ouvir, na melhor das hipóteses: “não posso falar mal de fulano, ele fez muito pra mim”. Isso é um absurdo, mas nossos políticos adoram. Nada há mais fácil para ganhar o voto de um cidadão que lhe dar uma cesta básica, um antibiótico, uma consulta, um encaminhamento para um exame. Ora, quem está com fome, doente, sem dinheiro, e é abandonado pelo serviço oficial do Estado, aceita tranquilamente isso como sendo verdadeiramente a função do vereador.
           Como consertar isso? Não sei, mas com o fim das verbas parlamentares, tanto para prefeituras quanto para entidades e o voto facultativo, certamente teríamos um legislativo melhor.
       Para pensar: Mais do que um poder executivo que me dê coisas, preciso de um legislativo que me dê leis que preservem minha dignidade.
Paulo César Pacheco, 19/06/2011.

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