Tem jeito?
Tenho escrito que venho perdendo a esperança de que um dia nos tornemos um país realmente justo. A cada semana que passa tudo que vejo nos jornais é mais e mais corrupção. Parece que nossos políticos pensam que o dinheiro público no Brasil é algo que não tem fim e que eles podem sim se servir dele, indiferente de, nos rincões ou nas grandes cidades, haver pessoas morrendo por falta de remédios, infra-estrutura ou segurança, além de outros verem se esvair suas chances de melhoria por falta de escolas decentes ou por causa de uma justiça que além de cega, é também contaminada pela corrupção.
Disse que é cega, na pior acepção da palavra, pois é difícil entender que haja justiça quando um ladrão de galinhas fica preso e um banqueiro desonesto ou um político bandido saem livres. A justiça até deve ser cega, mas os juízes devem enxergar bem, pois os advogados dos bandidos ricos lêem as regras com lupa. Como imaginar que um desembargador como o Senhor Elpídio Donizetti, que usa do artifício de contratar sua ex-esposa em um cargo comissionado em seu gabinete, para se eximir de lhe pagar a pensão, vá dar julgamento justo a uma causa que lhe chega às mãos? Não posso dizer que ele seja inidôneo, desonesto, mesmo porque ele tem claro, todo direito de defesa, mas questionar, uma vez que até o CNJ já se posicionou publicamente a respeito, certamente eu posso! Na verdade, não vi ninguém confirmando se ele realmente separou dela ou se divorciou apenas para poder incluí-la entre seus contratados, uma vez que ela perderia o cargo comissionado pela aposentadoria de outro desembargador com o qual já trabalhava. O que seria um crime muito maior. O que me faz pensar nessa hipótese é o fato de ela já ter um cargo efetivo no tribunal, com um salário de mais de R$6.000,00 por mês. Uma coisa, entretanto, me chamou a atenção quando pesquisei seu nome na internet: seu extenso currículo. Como pode um senhor com tal currículo expor seu nome por tão pouco?
Outro assunto que me perturbou foi uma propaganda do PTB, em que eles criticam a proposta de financiamento público de campanhas. Na propaganda eles buscam iludir o eleitor mais humilde, dizendo que a verba citada, seria tirada da educação, da previdência ou da saúde. É má fé! Eles não dizem que no Brasil os partidos já dispõem de verba pública, inclusive o PTB já recebeu esse ano, R$4.588.601,86 do Fundo Partidário (Site do TSE). Nosso jeito de financiar campanhas eleitorais é extremamente injusto e antiético. Injusto porque quem tem mais dinheiro ou influência sai com vantagem na disputa com alguém com menos recursos. Antiético porque uma empresa que preste serviço ao governo, como uma construtora ou um banco, por exemplo, prefere patrocinar a campanha de um candidato que tente a reeleição. É um perfeito absurdo uma construtora financiar a campanha política de quem terá a chave do cofre. Por isso financiam tanto a oposição quanto o governo. Não correm o risco de se desentender com ninguém. Depois é fácil. Licitações fictícias, maracutaias mil, consultorias, e o dinheiro que elas investiram – sim, investiram – volta muito maior.
O povo não discute a reforma política, por isso essa corja vai fazer o que mais lhe convier, não mexerão nas suas fontes de poder definitivamente. Cada pessoa deve ter sua idéia de reforma ideal, de acordo com suas convicções, seus valores. Eu tenho a minha: voto facultativo, financiamento público de campanha, fim do voto proporcional, fidelidade partidária absoluta, fim das verbas direcionadas por parlamentares, cláusula de barreira (para evitar os partidos nanicos inúteis), legislativo unicameral (fim do senado) e exigência de ficha limpa total. Essa reforma é um sonho, uma utopia. Teríamos uma democracia real com leis justas, debates em todos os níveis da sociedade, respeitando aqueles que preferem viver alienados, mergulhados nas suas novelas da TV. As leis justas trariam julgamentos justos. Teríamos direitos respeitados, licitações justas, impostos bem usados. Teríamos de volta o culto aos bons valores. Teríamos políticos realmente líderes no comando do País.
Mais um motivo de descrença? Em Belo Horizonte o Ministério Público pede o bloqueio dos bens de todos os vereadores. São quarenta e um envolvidos em desvios de verba indenizatória. Todos eles! Isso é inacreditável, e o pior é que não provoca uma reação popular. Isso é tão absurdo que não vou nem comentar!
Cada notícia dessas me mostra que temos menos chances e, para terminar, quando vejo seis soldados do exército dançando funk ao som do Hino Nacional Brasileiro, cuja música foi deturpada, para ter aquele som de lixo, me convenço que a saída desse buraco não está fácil de ser achada.
Paulo César Pacheco