quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Legislativo!

-É triste o que nossos políticos fazem, ou fizeram com o Legislativo, o poder mais importante da república. Digo o mais importante porque no sistema de equilíbrio de forças, aperfeiçoado por Montesquieu, é no legislativo que são criadas as regras com as quais o Executivo e o Judiciário trabalham. A casa legislativa, onde deveria acontecer os debates fundamentais para o funcionamento do país, foi transformado num balcão de negócios, onde leis são negociadas em troca de verbas e cargos. Seus integrantes hoje, nem ao menos sabem da importância da casa para a qual foram eleitos. Transformaram-se em meros intermediadores de dinheiros para prefeituras e estados. Nos municípios, os vereadores são hoje intermediários de benesses que, em primeira instância, são direitos dos cidadãos.
-Parece que nossos representantes, e aqui falo de todos os partidos, perderam realmente o senso de ridículo. Não se incomodam nem com o veredito das urnas, pois contam com a leniência, a ignorância dos eleitores, obrigatoriedade do voto, não obrigatoriedade de fidelidade partidária, para fazer do seu mandato um simples correr atrás de verbas, sem nenhum compromisso com ideias e ideologias. Sabem que o povo elege quem lhe dá vantagens, quem mostra ter mais influência. Para se ter maior influência, tem que carregar mais votos "na base", para se ter mais votos, tem que ter verbas e mais inaugurações. Para isso, tem que ser apoiador do dono da caneta. Ninguém faz oposição real a quem lhe libera verbas.
-Temos em Brasília 513 deputados e 81 senadores. Nos estados centenas de deputados estaduais. Nos municípios, milhares de vereadores. Cada um com seu séquito de assessores. Quantos desses milhares de "representantes do povo" se preocupam realmente com fazer leis e fiscalizar? Muito poucos. Em Brasília, por exemplo, a gente só ouve falar o nome de dez ou vinte deputados, cinco ou seis senadores. O resto não participa efetivamente do processo legislativo, contentam-se em votar de acordo com seus líderes. Embora assine dois jornais, e os leia todos os dias, não sei nome de mais que uns cinco deputados estaduais, mesmo assim, por denúncias de improbidades mil.
-O povo tende a achar que o legislativo é caro. E é! São tantas as verbas, tantas as ventagens e tão pouca a produção que ele se tornou um poder caro para o povo. Mas é fundamental para a democracia. Sua ausência da cena, cria a situação que temos hoje no Brasil, onde o Executivo legisla por Medidas Provisórias e o Judiciário legisla por interpretação das leis mal feitas na casa legislativa.
-Já escrevi aqui e repito sempre, não teremos realmente uma democracia enquanto não tivermos um Legislativo forte. Não teremos um legislativo forte, enquanto não votarmos por leis, por ideologia, e não por verbas que são direito nosso!

Um abraço, Paulo César Pacheco!

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Religião!

                                                            
          O mundo tem sete bilhões de habitantes. Vamos imaginar que a metade de toda essa população siga alguma religião. São três e meio bilhões de pessoas. Acho não será superdimensionado imaginarmos que a metade dessa população faça orações pelo menos uma vez por semana. São um bilhão e setecentos milhões de pessoas rezando. Não exageraremos se imaginarmos que a metade desse contingente seja de pessoas mais envolvidas nas religiões, que reze todos os dias. São oitocentos e cinqüenta milhões de pessoas rezando todos os dias! Esse raciocínio é muito simplificado, minimalista até.
         Pergunto então aos amigos: quem reza, o faz pedindo principalmente o que? Ou melhor, qual pedido estará certamente presente em todas as orações? Mentiremos se dissermos que a paz, em todas as suas esferas, será esse pedido constante? Claro que não!
         Ouso então perguntar aos amigos: se todas essas pessoas imploram por essa paz, o fazem porque crêem que seu deus é capaz de suprir essa sua necessidade, certo? Então, por que ele não as atende? Se as pessoas acreditam que basta que seu deus estale os dedos e a paz se fará, por que ele simplesmente não faz? Por que ele deixa que as pessoas continuem se matando por causa do nome diferente que as diversas culturas lhe dão? Por que permitir que crianças e idosos indefesos sejam torturados, por covardes mais fortes, muitas vezes escondidos atrás de uma cruz ou de outro símbolo humano qualquer. Por que permitir que populações inteiras morram sofrendo por fome, sede, doenças, se bastaria um estalar de dedos?
        As pessoas, muitas delas, não seguem sua religião por convicção, fazem-no por medo do inferno ou simplesmente para que seu deus os veja com vantagem. Esperam que ele olhe para elas de forma diferente de seu vizinho. Querem se mostrar melhores perante ele, pois fazem mais sacrifícios, enfeitam mais a casa, doam mais, rezam mais, por isso, têm mais direito a bênçãos. O sentimento é tão estranho que tem pessoas se sentem abençoadas, por um motivo ou outro. Ora, abençoado quer dizer privilegiado. Como imaginar que haja justiça numa situação dessas?
        Não sou ateu, sou agnóstico. Não creio em religiões, nem nas suas tradições, seus escritos nem em seus líderes. Não creio que haja uma vida eterna, acho-a improvável, ilógica. Se me perguntarem se creio em deus, vou responder que não sei. Nada tenho que me prova que ele exista, assim como não encontrei prova de sua inexistência. Não creio no acaso, como fonte da vida. Penso que a vida é muito mágica para ser obra do acaso e muito lógica para ser obra de um simples passe de mágica.
       Defino espiritualidade como algo independente de religião. Ela, a espiritualidade, tem muito mais a ver com a maneira com a qual se vê o mundo, suas criaturas, suas beleza, sua luz, sua escuridão, do que com o fato de se pagar dízimo, andar quilômetros de joelhos ou acender centenas de velas. Acho que buscar conhecer a vida e suas razões, preservá-la, respeitá-la, e, por fim, buscar a paz, acima de tudo é viver com espiritualidade.
       Disse acima que não creio na vida eterna por que a acho improvável, mas com certeza, meus amigos, se ela existir, prefiro passá-la no mesmo lugar que um Darwin, um Eintem, um Freud, entre outros questionadores que ao lado de um radical muçulmano com suas setenta virgens, ou ao lado de um bispo pilantra, ou ainda ao lado de um papa, com toda sua pompa.

Um abraço, Paulo César Pacheco, 09/01/12.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Mordaça eleitoral!

                                                   
    -      O colunista do jornal Estado de Minas, Baptista Chagas de Almeida, traz hoje 03-01-2012, uma notícia que atesta o quanto nossos legisladores são mal intencionados. O senhor deputado Bonifácio de Andrada, do PSDB mineiro, criou um projeto de lei que visa instituir o sigilo sobre investigação de crimes culposos dos candidatos em período eleitoral. A aberração prevê pena de detenção de até oito meses e multa de até quinze mil reais para quem divulgar “sindicância, procedimento investigatório, inquérito ou processo ou qualquer ocorrência de natureza penal relativa a qualquer candidato ou fato durante a campanha”. Isso, meus caros, valeria até para os meios de comunicação, o que, por si só, já representa um atentado à liberdade de imprensa, um direito da sociedade, garantido na Constituição.
     -     O deputado, que responde por “captação ilícita de votos ou corrupção eleitoral” no STF, disse que o motivo desse projeto absurdo é proteger o candidato de possíveis perseguições de adversários durante a campanha. Palavras dele, segundo o colunista: “impedir que ocorrências na área penal, sem maiores conseqüências, possam ser usadas maliciosamente em campanhas eleitorais”. O caro deputado está simplesmente querendo, com essa idiotice, proibir que a população, fique sabendo que seu candidato responde a processo, o que deve, ou deveria influir no seu voto.
     -     Infelizmente, essa notícia mostra o quanto não nos importamos com a qualidade dos nossos legisladores. Esse senhor está no seu nono mandato, deve ter encaminhado muitas verbas para seu curral eleitoral, por isso se elege sempre e vai se reeleger na próxima eleição, mesmo respondendo a processo e mesmo propondo verdadeiros atentados ao direito do cidadão que paga impostos.
     -     Reitero o que digo sempre aqui e em outros lugares em que escrevo: não teremos um país realmente bom, com justiça ágil, com educação eficiente, com saúde decente, com uma previdência sadia, enquanto não acabarmos com os desmandos. Não acabaremos com os desmandos enquanto não elegermos políticos comprometidos com leis e não com verbas. Com igualdade e não com vantagens.