domingo, 7 de agosto de 2011

Falta d'água!

Falta de água!
            Foi noticiado, nessa última semana, que um caminhão caiu no Rio Formiga, inviabilizando a coleta da água que atende a maior parte da cidade. Pedidos foram feitos em vários programas de rádio populares e nos jornais, pedindo à população que a economizasse, pois essa haveria de faltar. Pois bem, mesmo com todos esses apelos, um simples passeio pelas ruas da cidade me mostra o quanto nossa população não tem senso de comunidade. Pessoas lavando carros, calçadas, garagens. Parece que a falta de água não lhes assusta! Sendo nossa cidade de topografia irregular, muito acidentada, e o fato de a água atender obrigatoriamente à lei da gravidade, é lógico que nas partes mais baixas da cidade não haverá falta do líquido da vida, mas e nos bairros altos? Minha casa, por exemplo, no alto do Ouro Negro, que já sofre constantemente com a falta de água (o que me obrigou a instalar caixa reserva no quintal, para completar o reservatório útil de cima da casa), nesses dias de falta, nem mesmo a caixa de baixo se enche.
            Pois bem, se nos dias normais, quando os moradores da parte mais baixa – ou menos alta – do bairro desperdiçam água já é um pecado – ou crime – que dirá então, meu caro e consciente leitor, de saber que nesses dias de falta propagandeada dela, muita gente continuar lavando ruas, calçadas e carros? É um absurdo, uma irracionalidade. Como pode alguém que mora na cidade, ou seja, em comunidade, não saber que o bem precioso que desperdiça acintosamente é vital para quem mora um pouco acima.
            Esse sentimento de provimento individual prioritário, ou seja, minhas necessidades acima das necessidades da comunidade, mesmo que as minhas não sejam mais vitais, é o que causa os desmandos que vemos todos os dias. É a tão nefasta e famosa “lei de gérson” (não a denomino em maiúsculas por nada nesse mundo), que nos diz que temos que levar vantagem em tudo. Por ela, escolhemos quem nos oferece mais vantagens, quem mostra nos reconhecer no meio da multidão, embora nem saiba nosso nome. Por ela escolhemos até nossa igreja. Ela transformou os valores que passamos para nossos filhos, que não mais precisam ser bons, têm que ser espertos. É ela que nos diz que temos que votar naquele canalha que está pendurado numa liminar contra a Lei Ficha Limpo, mas traz verbas – que nem sempre são usadas idoneamente – para nossa cidade.
             É tudo interligado. Nossos representantes são uma amostra da sociedade – ou ajuntado de gente – que somos. A corrupção deles lá em cima não é diferente da nossa aqui embaixo. Se lá eles roubam milhões, aqui furamos a fila do banco, não devolvemos um troco a mais que nos foi dado, sujamos as ruas, desperdiçamos água.
            Como querer que tenhamos leis boas, factíveis, que valham para todos os cidadãos e todos os municípios, se nem perguntamos ao nosso candidato a legislador qual o seu projeto político? E, quando o fazemos, nos importa apenas a quantidade de vantagens ele pode nos trazer? Se não nos preocupamos com sua vida pregressa, se o abraçamos apesar de seu passado muitas vezes – quase todas – muito mais sujo que a rua que lavamos com a água desperdiçada? Como imaginar que tenhamos um dia serviços públicos dignos, se o que importa é se somos amigos de um vereador, de um juiz, de um policial, de um deputado ou até mesmo que um padre ou um pastor, para sermos atendidos preferencialmente em nossa necessidade? Se, tolamente, desperdiçamos algo que a população toda pagou com seu imposto?
           Definitivamente não nos incluímos na sociedade. Não aceitamos dividir com justeza o que é de direito dos que nos cercam. Se, buscamos acima de tudo o acúmulo de bens e usos, não temos consciência que ninguém deve ganhar mais que o combinado. Que, sempre para que alguém leve vantagem, alguém tem que perder. Que diferença faz se essa perda é um desfalque no orçamento público para a construção de um pronto-socorro ou de uma escola, ou no negociar desonesto de um carro, ou no furar de uma fila, ou no apagar de uma multa de trânsito? Que diferença faz se o que os importa não é o direito, limitado pelos deveres, que temos e sim a influência que conseguimos ter, mesmo que para isso tenhamos que comprometer nossa dignidade? Nenhuma, pois essa influência só nos fará cercados de puxa-sacos, desonestos, em nada diferentes de nós.
            Não somos uma sociedade, somos um ajuntado de seres irracionais, vivendo como nos primórdios nas savanas africanas, como predadores e presas. Os espertos são predadores, abatem suas presas – os ingênuos ou tolos, ou honestos, como queiram – e são ovacionados por isso. Sempre aplaudimos e seguimos aqueles que conseguem levar mais vantagens, afinal, são mais espertos, por isso, nossos ídolos.
            Prá pensar: É muito mais fácil ostentar sucesso a qualquer custo que tentar provar que vale a pena remar contra o rio de lama!
Educação! Falta educação!

Paulo César Pacheco, 07/08/2011!

Um comentário:

  1. Excelente Paulo. Um texto abrangente que toca na ferida. Uma ferida que virou chaga social. Cada um só olha para seu própro umbigo, perdeu o senso de comunidade, que se lixe o outro. Estamos passando de seres racionais para a total irracionalidade. O senso de civilidade há muito foi esquecido.

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