terça-feira, 30 de agosto de 2011

Água boa e água má!


Água boa e Água má

    Sei que o título deste texto é meio esquisito, mas é proposital que cause esta sensação.
    Tudo na vida tem um motivo, um alvo, um final buscado. E com a água não é diferente, toda água busca o lugar mais baixo, ou seja, o mar, isso porque toda enxurrada por menor que seja chega a um córrego e este a um rio que sai num outro maior que acaba chegando ao mar. Quando disse “água boa” quis dizer aquela água da chuva fina, que um matuto um dia definiu pra mim como sendo “água de molhar terra” porque sendo fina e constante penetra na terra, encharcando-a. As pessoas gostam de se molhar numa chuva de “água boa”. A “água boa” também chega ao oceano, porem não briga com seus obstáculos, ela sempre procura um jeito de contorná-los, sem destruí-los. Quando não pode a contorná-los cresce lentamente e os ultrapassa, mas, não sem negociar, para ultrapassá-los ela tem de deixar um pouco dela retido no obstáculo. Mas ela passa! E assim vai vencendo seus desafios até chegar ao seu destino, o mar. E chega depois de irrigar muitos lugares, refrescar muitos outros e de deixar todos agradecidos com sua passagem. Chega sem ter comprado briga com ninguém, sem ter destruído nada, só fez coisas boas.
     A “água má” também desce com a chuva, mas não com a chuva fina, ela vem com as tempestades, ela não cria aquela enxurrada pequena, ela vem logo devastadora no seu primeiro contacto com a terra. Arrasa tudo que pode ser arrasado por onde passa, ao invés de molhar aterra ela arrasta a terra consigo, entope os córregos, destrói o que pode se destruído, faz com tenhamos medo dela, faz com que a respeitemos. Ninguém sai numa tempestade! Ela não negocia com seus obstáculos, ela os derruba!
     Mas, mesmo a mais má das águas encontra um obstáculo que ela não pode vencer, então ela tem que se tornar “água boa”, represada ela se torna mansa, mas como o obstáculo é maior ela sempre tem que deixar um tanto muito maior dela pra trás para conseguir chegar ao oceano. Então ela se amansa!
     Podemos ser na nossa vida “água boa” ou “água má”, depende das escolhas que fazemos ao longo da nossa vida. Creio que nosso oceano seja a nossa velhice onde poderemos descansar e ver nossa família criada, ou seja, nos sentiremos realizados. Se formos “água boa”, negociaremos com nossos problemas, discutiremos de forma sensata, negociaremos, cederemos um pouco em tudo, mas, manteremos o nosso essencial, nossa dignidade e chegaremos crescidos ao nosso oceano.
     Se escolhermos ser “água má”, teremos uma vida cheia de brigas, onde não aceitaremos perder nada, não negociaremos nada, vamos pensar ser os donos de tudo, sem importar o quanto de gente sairá machucada, ou perderá algo para nossa arrogância, nada importa. Até que um dia, encontraremos um obstáculo ante o qual teremos que nos curvar, aí, como não sabemos negociar, certamente vamos apanhar um bocado. Este obstáculo pode ser uma doença, uma perda, uma cadeia, ou um acidente, sabe-se lá, quanta coisa na vida é difícil de transpor! Como nunca negociamos nada, não teremos nem amigos para nos ajudar a transpor este desafio. Estaremos sós!
     Quero ser “água boa”, envelhecer tranqüilo, espero que rodeado de amigos, sem magoar pessoas, tentando cativa-las. Sei que terei muito mais força, mais saúde, menos rugas e as que surgirem serão comemoradas ao invés de retiradas ou escondidas.
      Sei que ainda não consigo negociar tudo, mas estou tentando aprender. Espero conseguir!!

Paulo, 09/01/2006!



domingo, 7 de agosto de 2011

Falta d'água!

Falta de água!
            Foi noticiado, nessa última semana, que um caminhão caiu no Rio Formiga, inviabilizando a coleta da água que atende a maior parte da cidade. Pedidos foram feitos em vários programas de rádio populares e nos jornais, pedindo à população que a economizasse, pois essa haveria de faltar. Pois bem, mesmo com todos esses apelos, um simples passeio pelas ruas da cidade me mostra o quanto nossa população não tem senso de comunidade. Pessoas lavando carros, calçadas, garagens. Parece que a falta de água não lhes assusta! Sendo nossa cidade de topografia irregular, muito acidentada, e o fato de a água atender obrigatoriamente à lei da gravidade, é lógico que nas partes mais baixas da cidade não haverá falta do líquido da vida, mas e nos bairros altos? Minha casa, por exemplo, no alto do Ouro Negro, que já sofre constantemente com a falta de água (o que me obrigou a instalar caixa reserva no quintal, para completar o reservatório útil de cima da casa), nesses dias de falta, nem mesmo a caixa de baixo se enche.
            Pois bem, se nos dias normais, quando os moradores da parte mais baixa – ou menos alta – do bairro desperdiçam água já é um pecado – ou crime – que dirá então, meu caro e consciente leitor, de saber que nesses dias de falta propagandeada dela, muita gente continuar lavando ruas, calçadas e carros? É um absurdo, uma irracionalidade. Como pode alguém que mora na cidade, ou seja, em comunidade, não saber que o bem precioso que desperdiça acintosamente é vital para quem mora um pouco acima.
            Esse sentimento de provimento individual prioritário, ou seja, minhas necessidades acima das necessidades da comunidade, mesmo que as minhas não sejam mais vitais, é o que causa os desmandos que vemos todos os dias. É a tão nefasta e famosa “lei de gérson” (não a denomino em maiúsculas por nada nesse mundo), que nos diz que temos que levar vantagem em tudo. Por ela, escolhemos quem nos oferece mais vantagens, quem mostra nos reconhecer no meio da multidão, embora nem saiba nosso nome. Por ela escolhemos até nossa igreja. Ela transformou os valores que passamos para nossos filhos, que não mais precisam ser bons, têm que ser espertos. É ela que nos diz que temos que votar naquele canalha que está pendurado numa liminar contra a Lei Ficha Limpo, mas traz verbas – que nem sempre são usadas idoneamente – para nossa cidade.
             É tudo interligado. Nossos representantes são uma amostra da sociedade – ou ajuntado de gente – que somos. A corrupção deles lá em cima não é diferente da nossa aqui embaixo. Se lá eles roubam milhões, aqui furamos a fila do banco, não devolvemos um troco a mais que nos foi dado, sujamos as ruas, desperdiçamos água.
            Como querer que tenhamos leis boas, factíveis, que valham para todos os cidadãos e todos os municípios, se nem perguntamos ao nosso candidato a legislador qual o seu projeto político? E, quando o fazemos, nos importa apenas a quantidade de vantagens ele pode nos trazer? Se não nos preocupamos com sua vida pregressa, se o abraçamos apesar de seu passado muitas vezes – quase todas – muito mais sujo que a rua que lavamos com a água desperdiçada? Como imaginar que tenhamos um dia serviços públicos dignos, se o que importa é se somos amigos de um vereador, de um juiz, de um policial, de um deputado ou até mesmo que um padre ou um pastor, para sermos atendidos preferencialmente em nossa necessidade? Se, tolamente, desperdiçamos algo que a população toda pagou com seu imposto?
           Definitivamente não nos incluímos na sociedade. Não aceitamos dividir com justeza o que é de direito dos que nos cercam. Se, buscamos acima de tudo o acúmulo de bens e usos, não temos consciência que ninguém deve ganhar mais que o combinado. Que, sempre para que alguém leve vantagem, alguém tem que perder. Que diferença faz se essa perda é um desfalque no orçamento público para a construção de um pronto-socorro ou de uma escola, ou no negociar desonesto de um carro, ou no furar de uma fila, ou no apagar de uma multa de trânsito? Que diferença faz se o que os importa não é o direito, limitado pelos deveres, que temos e sim a influência que conseguimos ter, mesmo que para isso tenhamos que comprometer nossa dignidade? Nenhuma, pois essa influência só nos fará cercados de puxa-sacos, desonestos, em nada diferentes de nós.
            Não somos uma sociedade, somos um ajuntado de seres irracionais, vivendo como nos primórdios nas savanas africanas, como predadores e presas. Os espertos são predadores, abatem suas presas – os ingênuos ou tolos, ou honestos, como queiram – e são ovacionados por isso. Sempre aplaudimos e seguimos aqueles que conseguem levar mais vantagens, afinal, são mais espertos, por isso, nossos ídolos.
            Prá pensar: É muito mais fácil ostentar sucesso a qualquer custo que tentar provar que vale a pena remar contra o rio de lama!
Educação! Falta educação!

Paulo César Pacheco, 07/08/2011!